Colheita do milho acelera no Brasil, mas atraso persiste e preocupa parte do setor

A colheita da segunda safra de milho no Brasil avança com mais intensidade nas últimas semanas, mas ainda não conseguiu eliminar o atraso acumulado desde o início do ciclo. Levantamento da Pátria Agronegócio mostra que, até o início desta semana, aproximadamente 53,30% da área nacional havia sido colhida, percentual abaixo dos 77,29% registrados no mesmo período do ano passado e da média de 57,69% das últimas cinco safras. 

Em Mato Grosso, principal produtor do cereal, o avanço das máquinas tem puxado a média nacional. Segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), até 18 de julho, a colheita atingia 77,26% da área no estado, com destaque para a região Médio-Norte, onde o índice já passa de 91%. Ainda assim, o número representa um atraso de 19,36 pontos percentuais em relação a 2024. O superintendente do Imea, Cleiton Gauer, atribui o ritmo lento ao excesso de chuvas durante a colheita e ao próprio atraso no plantio da soja.  

“Esse avanço vem depois de um início bem desacelerado, mas já era algo esperado, pelo início de safra lá no começo de safra de soja, um pouco mais lento, na sequência com a colheita e também a semeadura um pouco mais tardia em relação ao que nós observamos na safra passada. Agora colheita começa a ganhar ritmo, com as máquinas no campo. A umidade também diminui, praticamente todas as lavouras chegando já em ponto de colheita. A expectativa agora é que até as próximas semanas você continue acelerando e que o produtor consiga finalizar a colheita dentro do próximo mês”, afirma. 

Em Sorriso, por exemplo, a colheita já atinge 98% das lavouras e deve ser concluída até o final da semana. Segundo Diogo Damiane, presidente do Sindicato Rural, o desempenho produtivo está dentro da média histórica. “As boas chuvas durante a fase crítica ajudaram bastante, e a qualidade dos grãos também está boa, com baixos índices de avarias”, afirma. 

No Paraná, a colheita já alcança 53% das lavouras, de acordo com o Departamento de Economia Rural (Deral). O avanço foi significativo em relação à semana anterior (13 pontos percentuais ante aos 40% registrados), e 87% das áreas restantes estão em maturação.  

As lavouras foram classificadas como 62% em boas condições, 22% médias e 16% ruins. A produtividade tem surpreendido positivamente em algumas regiões, mesmo com problemas climáticos durante o ciclo. Porém, as áreas mais afetadas por geadas ainda não foram colhidas.  

Em Londrina, por exemplo, a colheita ainda está bastante atrasada, praticamente no início, enquanto outras regiões do estado já avançaram significativamente. De acordo com o produtor rural e diretor do Sindicato Rural do Município, Adão de Pauli, a expectativa é que os trabalhos se estendam até o final de agosto. A produtividade também está comprometida devido às fortes geadas que atingiram a região durante o ciclo, causando perdas que variam entre 20% e 50%. 

Já em Goiás, a situação é diversa entre regiões. Em Jataí, a colheita chegou a 35% nesta semana, com atraso de cerca de uma semana devido às chuvas e ao frio. Mesmo assim, os produtores estão otimistas com a produtividade, que pode superar as 120 sacas por hectare do ciclo passado, conforme reportou a produtora rural Lia Katzer.  

Já em Ipameri, o início foi lento e os rendimentos decepcionaram, com médias de 90 a 95 sacas por hectare. Segundo relatos do Presidente do Sindicato Rural do município, Fábio Barduchi, um veranico entre fevereiro e março prejudicou o desenvolvimento das lavouras, e parte dos agricultores apostou em alternativas como sorgo e girassol, que responderam melhor ao clima. 

Tocantins é um dos estados mais adiantados com os trabalhos, onda a colheita está praticamente finalizada, com 90% da área colhida. A produtividade esperada é de 90 sacas por hectare, número que reforça a projeção de safra recorde em volume. No entanto, algumas lavouras ainda estão sendo mantidas no campo para secagem natural, diante da limitação na capacidade de armazenagem no estado. 

Outra região que está com a colheita perto do fim é Paracatu/MG. O produtor João Luiz Pinton, conta que ele já finalizou os trabalhos em sua propriedade e a forte seca entre fevereiro e março prejudicou seriamente o ciclo do milho, com produtividade média de apenas 80 sacas por hectare. “Em algumas áreas, tivemos que destinar o milho para silagem”, relata. 

Segundo o analista de mercado da Brandalizze Consulting, Vlamir Brandalizze, o atraso da colheita é generalizado no Centro-Sul, incluindo estados como Mato Grosso do Sul, Paraná, São Paulo, Goiás e parte de Minas Gerais. Ele destaca que o movimento também está ligado à decisão de muitos produtores de segurar a entrega do cereal.  

“O produtor está colhendo e segurando o milho no campo, ou está indo direto do campo para o caminhão. Muitos estão retardando a entrega porque os armazéns ainda estão ocupados com soja ou porque o preço está baixo”, destaca. 

Para Enilson Nogueira, analista da Céleres Consultoria, a lentidão na colheita também reflete uma estratégia do produtor diante dos preços baixos e da falta de armazenagem. “Vale lembrar que ainda tem bastante soja estocada do primeiro semestre”, destaca. No entanto, ele vê essa estratégia como de curto prazo: “Temos contratos de entrega já posicionados e custeios vencendo entre 30 de agosto e 30 de setembro”. 

Nogueira também descarta perdas de qualidade até o momento. “Nesse período do ano, o tempo é seco, não mexe em umidade. O risco maior é fogo/incêndio, mas não temos visto nada de excepcional até então”. 

Os dois analistas concordam com a análise de que não haverá impactos no plantio da nova safra de soja 2025/26, que deve começar em setembro em algumas localidades do país. “Na minha visão, devemos recuperar o ritmo de colheita nas próximas 2/3 semanas, no máximo. Não vejo chegando até setembro e atrapalhando o trabalho de campo da safra nova”, diz Nogueira. 

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