O mercado global do café está pressionado e monitorando o volume total e a produtividade da safra brasileira de 2025. Já é certo que o clima adverso em 2024 resultou em uma quebra significativa para essa temporada no país, mas novas estimativas apontam uma mudança de cenário, e o café arábica pode registrar uma produção mais significativa e maior do que é esperada.
Segundo relatório divulgado pela Pine Agronegócios, depois do acumulado de chuvas do segundo trimestre de março até abril, as condições de umidade de solo melhoraram bastante e, com isso, chegamos em melhores condições no ano de 2025 do que em 2024. No ano passado, neste mesmo período já tínhamos um déficit hídrico, um armazenamento de solo menor que 80 e temperaturas muito acima da média. Portanto, muito provável que a potencial das lavouras desta temporada 25/26 tenha aumentado.
Mas, mesmo que as chuvas acumuladas em abril possam ter ajudado na recuperação dos frutos, ainda existe a possibilidade de maior quantidade de grãos chochos. "Nós só vamos ver isso na colheita, tem gente que fala até em 12% desse problema de grãos chochos,e é um percentual de certa maneira alto. Em uma safra boa, a quantidade de grãos chochos não chega a 1%", explicou o presidente da illycaffè, Andrea Illy.
Illy acrescentou que sua avaliação é baseada em informações de técnicos que a illycaffè tem em diferentes regiões do Brasil, porém, mesmo com esse futuro problema de qualidade para a indústria cafeeira, ele ressalta que a queda esperada da safra de arábica do Brasil não deve ser tão grande. "A chuva que veio de certa maneira recuperou a perda. Acho que não vai ser tão grande no meu modo de ver. Estou falando conjunturalmente", completou.
Dados divulgados no 2º Levantamento da Safra de Café 2025 pela Conab estimou um crescimento de 2,7% para essa temporada comparada a do ano passado. O bom resultado é influenciado, principalmente, pela recuperação de 28,3% nas produtividades médias das lavouras de conilon, mas para o arábica a companhia ainda prevê uma redução de 6,6% na colheita, contabilizando algo em torno de 37 milhões de sacas, o que ameniza assim a queda anual estimada previamente.
De acordo com a avaliação da Safras & Mercado, a produção brasileira de café 2025/26 está estimada em 65,51 milhões de sacas de 60 quilos, volume que representa um aumento de quase 5% na comparação com a previsão anterior da consultoria. Com uma revisão para cima na produção de grãos arábicas e canéforas, a Safras vê agora uma queda de apenas 1% em relação à temporada passada. Para o arábica, a expectativa agora é de uma safra de 40,46 milhões de sacas, representando uma queda de 11% na comparação anual.
"No início de 2025, com os frutos já se formando nos pés, a perspectiva do arábica melhorou, e os produtores passaram a demonstrar maior otimismo quanto ao resultado produtivo. Com o início dos trabalhos de colheita, prevalece a expectativa de uma produção ligeiramente superior à indicada pelos primeiros sinais observados no período pós-florada", ressaltou o consultor de Safras & Mercado, Gil Barabach.
Início de uma nova safra: trabalhos de colheita do arábica começam no Brasil
Os trabalhos de colheita no Brasil ainda está no começo, mais avançado para o conilon, e iniciando em algumas regiões de produção do arábica.
Na Alta Mogiana, uma das regiões mais tradicionais na produção de cafés especiais no Brasil, a maioria dos produtores iniciaram os trabalhos no começo de maio e deve seguir até o final de agosto, podendo se estender até setembro em algumas propriedades. A expectativa pela região é de clima estável e seco, condição essencial para garantir a qualidade dos grãos colhidos. Mas, apesar do otimismo os produtores lidam com um cenário de menor produtividade 2025. “A realidade no campo mostra perdas que em algumas áreas podem chegar em até 20%, relatou o produtor da região Rafael Stefani.
Já nas áreas do Sul de Minar Gerais, 70% dos produtores já estão colhendo. "Essa chuva de atrapalhou um pouco o andamento dos trabalhos, mas a expectativa está boa para qualidade e peneira. Só o rendimento, se tem quebra maior ou não, que precisamos esperar mais pra saber", contou o Heberson Sastre, Gerente da Mesa de Operações da Cooperativa Minasul.
No Sudoeste de MG os trabalhos estão no início, principalmente nas lavouras de Arceburgo, Guaranese, Passos, Nova Resende, e em algumas áreas da Petúnia. Segundo o presidente da Associação dos Cafeicultores Sudoeste de Minas, Fernando Barbosa, alguns produtores estão realizando uma prática de colher cafés no Vico, que são das primeiras colheitas. "Alguns produtores já estão realizando a aplicação de etrel (regulador de crescimento), até mesmo para desprender os grãos de café do pé, principalmente quem vai fazer o Cereja Descascado. O tempo está nublado, já iniciou mais frio, então, provavelmente a maturação ela fica mais tarde um pouco", acrescentou.
Barbosa explica que a parte vegetativa das lavouras está se desenvolvendo muito bem, apesar do estresse hídrico, mas certamente isso acabou afetando uma parte do enchimento de grãos, que ainda não tem como contabilizar.
Novos recordes: Produção café arábica mundo afora
Em contrapartida ao Brasil, segundo informações da Federação Nacional dos Produtores de Café, a produção de café da Colômbia entre outubro de 2024 e abril de 2025 atingiu 9,3 milhões de sacas, o que representa um aumento de 31%. Nos últimos 12 meses consecutivos, a produção atingiu 14,9 milhões de sacas, um número não visto desde 1992.
Já dados divulgados na última semana pelo USDA mostram que a produção de café hondurenha deverá atingir 5,52 milhões de sacas em 2024/25 e subir para 5,80 milhões na temporada 2025/26. Essa tendência de alta está sustentada pela redução da ferrugem do café, pela maior disponibilidade de mão-de-obra e por um aumento de 81% nos preços internacionais.