O temor com uma possível nova estiagem e a falta de crédito rural devem fazer com que os produtores rurais gaúchos reduzam a área plantada de grãos na safra de verão 2025/26. Nesta terça-feira (2/9), durante a feira Expointer, em Esteio (RS), a Emater/RS, empresa pública de extensão rural do Rio Grande do Sul, divulgou uma estimativa de plantio de 8,47 milhões de hectares plantados de grãos na nova temporada. Se confirmada, a área semeada será 0,5% menor do que no ciclo 2024/25.
Na soja, maior cultura do período, a área estimada é de 6,74 milhões de hectares, um recuo de 0,8% em relação aos 6,79 milhões de hectares da última temporada. Na safra de verão 2024/25, a estiagem fez com que as lavouras gaúchas tivessem uma perda de 30% na produção em relação à estimativa inicial, de 21,6 milhões de toneladas.
Em parte, a redução de área justifica-se pelo temor climático de um novo fenômeno La Niña, que cria condições de estiagem no Rio Grande do Sul, durante o verão. No entanto, as projeções do governo gaúcho ainda não demonstram que deverá ocorrer essa falta de precipitações.
“Em setembro e outubro, devemos ter chuvas acima da média, e apenas em novembro estão previstas precipitações abaixo da normal climatológica no Estado. Para o verão, ainda não podemos dizer que ocorrerá o La Niña, e a tendência é de chuvas e temperaturas dentro do normal”, afirma Flávio Varone, meteorologista e coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro-RS).
Endividamento
Outro fator que influencia a decisão de investimento nas lavouras é o endividamento e falta de crédito dos produtores rurais. “Temos sentido que os financiamentos de lavouras estão muito lentos nesta safra. Apenas 15% da área de milho já está financiada, enquanto na soja mal chega a 9%”, afirma Célio Alberto Colle, assessor técnico da Emater/RS.
“Os produtores não estão conseguindo acessar crédito rural e o seguro de custeio está sendo oneroso, prejudicando o investimento em lavouras”, completa Colle.
Boa parte da área de soja no Rio Grande do Sul deverá ser ocupada com milho. A estimativa é que a área da cultura cresça 9,31% nesta safra, para 785 mil hectares (na última temporada, o grão ocupou 718 mil hectares).
Segundo o diretor técnico da Emater/RS, Claudinei Baldissera, condições de mercado e climáticas posicionam a cultura do milho a se projetar melhor nesta safra. “Os preços estão atraentes e, na última safra, a janela de plantio fez com que o milho tivesse um desenvolvimento melhor do que a soja. Com isso, para muitos produtores, essa cultura está mais interessante.
A Emater/RS também confirmou a previsão do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), divulgada nesta segunda-feira (1/9), que mostra que os produtores gaúchos deverão semear 920 mil hectares com a cultura, um recuo de 5,17% em relação aos 970 hectares plantados na temporada 2024/25.
Nesta cultura, a redução é reflexo de uma tentativa de estancar a baixa dos preços com redução de produção. Atualmente, os preços do arroz em casca, de acordo com o indicador Cepea/Irga-RS, estão operando pouco acima de R$ 67 a saca de 50 quilos. Há um ano, a cotação estava acima de R$ 117 a saca.
Já para o feijão primeira safra é esperada uma área plantada de 26 mil hectares no Rio Grande do Sul, um recuo de 15,27% em relação aos quase 31 mil hectares da temporada 2024/25.