Após apresentar uma safra considerada frustrada, registrando uma produção de 230,87 milhões de caixas (a segunda menor dos últimos 37 anos), a safra de laranja brasileira de 2025/26 no cinturão citrícola de São Paulo e Triângulo/Sudoeste Mineiro é estimada pela Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) em 314,6 milhões de caixas, registrando assim um aumento de 36,2% em relação à anterior.
"Mas, no campo a gente está vendo que talvez não seja tudo isso. Em função da falta de chuvas, ainda está um pouco seco, e nós temos uma produção de laranjas que é a segunda florada, ou seja, as frutas não se desenvolveram totalmente e agora com a falta de água, talvez prejudique um pouco esse número que foi divulgado pela Fundecitrus. Nós estamos tendo queda de frutas, né? É isso que a gente está percebendo no campo", alertou o engenheiro agronômo e consultor em Citrus do GCONCI, Gilberto Tozatti.
De acordo com a nota técnica divulgada pela CitrusBR (Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos), entre janeiro e março deste ano, as chuvas ficaram abaixo da média histórica, e tivemos um inverno mais frio, o que resultou então em um processo de maturação mais lento e, como consequência, os frutos apresentaram coloração madura, mas com um ritmo de redução de acidez inferior ao normal. "Esse comportamento foi observado no período da colheita das variedades precoces e no início da colheita da laranja Pera, mantendo o ratio (relação Brix/acidez) em patamares relativamente baixos", completou o documento.
Ainda segundo a nota, foi registrada a existência de duas floradas predominantes, sendo a primeira responsável por 20,7% e a segunda por 69,9%, fatores determinantes para as características da fruta colhida até o momento.
O diretor-executivo da Associação, Ibiapaba Netto, afirma que a produtividade da fruta vem aumentando ao longo dos anos, mas a questão da qualidade é sim uma preocupação para o setor, "existe uma tendência de uma qualidade um pouco mais desafiadora, principalmente pelo ataque do Greening, que têm um efeito importante sobre o equilíbrio, o sabor da laranja, ele aumenta a acidez", explicou.
O greening é transmitido pelo inseto psilídeo, um pequeno besouro que voa por longas distâncias, afetando as plantas cítricas, causando deformidades e queda dos frutos.
"Essa doença é a mais devastadora da citricultura no mundo todo, e aqui no Brasil não é diferente. Ela tá atingindo várias regiões. No estado de São Paulo, 53% dos pomares têm greening, e a gente ainda não sabe o restante de quantas plantas que não mostraram os sintomas, mas estão contaminadas. Então, o nosso grande desafio hoje na citricultura, sem dúvida, é o greening", destacou o consultor em citricultura, Arlindo de Salvo Filho.
Informações da CitrusBR ressaltam que mesmo os efeitos do greening exigindo atenção quanto à qualidade do suco, as previsões de aumento de temperatura em setembro e início das chuvas em outubro tendem a proporcionar uma aceleração na redução de acidez dos frutos, com consequente melhora de ratio e condições qualitativas gerais.
Enquanto essa doçura e as melhores condições qualitativas não chegam aos pomares, a demanda industrial segue cautelosa, e os preços pressionados e reagindo a todo este cenário. "O mercado ainda não tá consumindo muito, porque a indústria está exigindo uma doçura melhor das frutas. Ela não abriu toda sua moagem, sua capacidade de moagem. Se a indústria começa a moer bastante, aí provavelmente o mercado vai melhorar esse preço", disse o consultor Salvo Filho.
Levantamento do Cepea aponta que para moagem industrial, as entregas das laranjas da safra 2025/26 começaram a se intensificar no final de agosto. Nos contratos firmados nos últimos dias, os valores ficaram próximos de R$ 50,00 por caixa, mas com exigência mínima de 13 graus brix.
"Qualidade é obrigação de produto. Ninguém pode pensar que vai sobreviver no mercado internacional com uma qualidade baixa. Então, é muito importante que a qualidade seja um aspecto observado tanto pela indústria quanto pelos produtores. Mas, a perspectiva para esta safra agora é de um aumento na qualidade em relação ao ano passado. A partir dos meses, provavelmente de setembro e outubro, com a maturação dessa segunda florada, a qualidade edeve aumentar", indagou Netto.