Sustentado principalmente pelas cooperativas, o agronegócio de Santa Catarina ainda tem o desafio de agregar mais valor às exportações, principalmente de cereais como soja, milho, arroz e trigo, que hoje representam mais da metade do volume de produtos agrícolas embarcados pelo Estado a outros países.
Continua depois da publicidade
A observação é do coordenador técnico da Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina (Ocesc), José Almery Padilha. Ele participou de um evento promovido na última semana em Foz do Iguaçu (PR)* pela Basf, multinacional alemã que produz soluções e químicos agrícolas.
Na programação, que reuniu cooperativas da região Sul do país, Padilha apresentou as credenciais do cooperativismo catarinense. O Estado reúne 235 cooperativas, que agregam quase 4,7 milhões de cooperados e geram cerca de 103 mil empregos. O setor cresceu 8% em 2024, com faturamento de R$ 91 bilhões. Deste montante, R$ 5,5 bilhões retornaram aos produtores em dinheiro ou cota capital.
Ele também destacou que 54% das exportações agrícolas catarinenses são de cereais in natura. O representante da Ocesc defende a busca de alternativas para industrializar essas commodities, em vez de exportar somente os grãos. Padilha considera que é preciso partir para estudos que viabilizem essa condição e admite que algumas ações já são pensadas, mas por ora não há nada de concreto:
— Ainda está na fase de incubação. Mas a ideia é essa, industrializar mais e vender menos commodity.
Segundo principal item da pauta exportadora do agro catarinense, a proteína animal, que inclui cortes de carne suína e aves, por exemplo, respondeu por 43% das vendas para o exterior em 2024. Apesar da representatividade, o Estado não deve sofrer tanto com o tarifaço dos Estados Unidos, avalia Padilha.
A Aurora, maior cooperativa do Estado, vende carne de porco para o mercado americano, mas conseguiu mitigar os impactos redirecionando as cargas para países como México, Canadá e Coreia do Sul, observou Padilha. O único segmento mais fortemente afetado, acrescenta, é o de produção de mel, que tem um forte polo produtor no Sul catarinense.
Cereais de inverno
Referência na produção de proteína animal, Santa Catarina enfrenta há anos o déficit de milho, um dos principais itens da ração de suínos, aves e gado leiteiro. O cultivo do cereal no Estado não é suficiente para atender a demanda, e boa parte dos grãos usados na alimentação dos rebanhos precisa vir de fora. Isso gera uma pressão constante nos frigoríficos, e já houve “ameaças” de transferência da produção para outras regiões.
A construção de ferrovias para agilizar a logística do insumo, também debatida há muito tempo, ajuda, mas por si só não resolve o problema. Padilha, porém, defende uma outra alternativa: o cultivo de cereais de inverno, como o trigo, que podem complementar a alimentação dos animais.
Continua depois da publicidade
— Santa Catarina tem ociosos em torno de 600 mil hectares que são plantados no verão, mas não são plantados no inverno. Está se buscando utilizar essas terras para gerar valor para o produtor e toda a sociedade e resolver o problema da cadeia de aves, suínos e gado de leite. A propriedade continuaria trabalhando — sugere.
Investimentos
Um levantamento da Ocesc aponta que as cooperativas de Santa Catarina projetam investimentos de R$ 6 bilhões para 2025. Mas o setor tem encontrado dificuldades para encontrar crédito acessível, que viabilize a expansão. Segundo Padilha, em uma das principais alternativas, o Crédito Rural do governo federal, o dinheiro está mais escasso.
— As cooperativas estão buscando alternativas no mercado de capitais para poder viabilizar as suas indústrias e investimentos. É um contrassenso um país com uma vocação agrícola muito grande não ter uma política definida de crescimento — critica.
Uma das ideias do sistema cooperativo para socorrer financeiramente o cooperativismo agrícola é desenvolver um tipo de seguro específico para o ramo, que dê garantias aos produtores em casos de perdas provocadas pela seca ou excesso de chuva.
Continua depois da publicidade
Lançamentos
Anfitriã do evento, a Basf aproveitou a presença em peso de cooperativas da região Sul para reforçar o lançamento de um novo inseticida que ataca pragas como a cigarrinha-do-milho e a mosca-branca, que afetam culturas como milho, soja e algodão. A multinacional alemã também anunciou, para 2027, uma nova biotecnologia para combater nematóides, outra ameaça para as lavouras.
— Isso vai mudar o jogo na agricultura brasileira — defendeu Graciela Mognol, diretora de Marketing para a Basf no Brasil, que observou que os nematóides provocam perdas de R$ 36 bilhões por ano no campo brasileiro.
Oportunidades
A companhia também lançou durante o evento o Programa Cooperar, um projeto para ajudar a espalhar conhecimento, capacitação e inovação entre cooperativas agrícolas. Para o gerente sênior de acesso ao mercado da Basf, Gustavo Bastos Alves, um dos desafios do setor é colocar no campo mais tecnologias e práticas que gerem ganho de produtividade:
— Sem produtividade, a agricultura não é viável. Tem muita coisa que acontece, de custos fixos e operacionais, que não está na mão do agricultor ou da cooperativa, são movimentos naturais do mercado. Mas está na mão deles ter excelência no processo produtivo.
Continua depois da publicidade
Já o vice-presidente da Basf Soluções para Agricultura no Brasil, Marcelo Batistela, reforçou que o cooperativismo ajuda a democratizar o conhecimento. Em conversa com jornalistas no evento, ele também ressaltou uma oportunidade de diversificação de cultivos:
— Criamos um sistema produtivo de sucesso, mas talvez seja a hora de evoluir. Já vemos indícios disso começar a acontecer.