A crise no arroz preocupa produtores, indústrias e parlamentares no Rio Grande do Sul. O deputado estadual Marcus Vinícius Vieira de Almeida (Progressistas) afirmou que o setor enfrenta o momento mais grave desde a pandemia da Covid-19.
O alerta foi feito durante entrevista ao programa Controle Geral, da Clic Rádio, no sábado, 18 de outubro. Segundo o parlamentar, a desvalorização do cereal é reflexo de um conjunto de fatores econômicos e políticos.
“Talvez seja a pior crise que o setor do arroz está vivendo desde o ápice da pandemia da Covid-19”, afirmou Marcus Vinícius. Ele destacou que o preço médio da saca, em algumas regiões do Estado, já caiu para R$ 56, valor inferior ao custo de produção.
Para o deputado, a situação é especialmente preocupante porque ocorre em um período historicamente favorável ao produtor. “Arroz com preço baixo nós já tivemos durante a pandemia, mas nunca em outubro, novembro ou dezembro, que são meses de melhores cotações”, pontuou.
O cenário mobilizou o Parlamento gaúcho, que, sob a liderança de Marcus Vinícius, promoveu uma reunião de trabalho com representantes das principais entidades do setor. O encontro reuniu Federarroz, Sindarroz, Farsul, Fetag, FarSul e o Irga, com o objetivo de propor medidas urgentes para amenizar o impacto da crise.
Reunião em defesa do arroz
A reunião ocorreu no dia 13 de outubro, na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, e contou com a presença do secretário estadual da Agricultura, Edivilson Brum, e do presidente do Instituto Rio-Grandense do Arroz (Irga), Eduardo Bonotto.
Segundo o deputado, o encontro, inicialmente planejado como uma reunião técnica, “se tornou uma verdadeira audiência pública” pela quantidade de representantes e pela gravidade dos relatos apresentados.
Na pauta, foram identificadas duas medidas prioritárias para tentar atenuar os efeitos da crise:
A isenção temporária da Taxa CDO (Contribuição de Defesa da Orizicultura), cobrada compulsoriamente dos produtores para custear o Irga.
A redução do ICMS sobre o arroz, nos moldes do que já ocorre no Paraná, criando um ambiente de maior competitividade com outros estados e com os países do Mercosul.
Marcus Vinícius explicou que a isenção da CDO, de 1,5% sobre cada saca comercializada, daria fôlego imediato ao setor. “Pode parecer pouco, mas 1,5% de ganho para quem exporta é muita grana. É muito dinheiro”, destacou.
Impactos da política federal e do arroz importado
Entre as causas da crise, o deputado apontou o excesso de estoques e a entrada crescente de arroz importado do Paraguai. Segundo ele, o governo federal comprou grandes volumes de arroz para baixar o preço ao consumidor, mas acabou afetando diretamente o produtor.
“O governo comprou muito arroz para estocar na tentativa de baixar o preço ao consumidor e acabou fazendo tanto que baixou o preço inclusive para o produtor”, afirmou.
Ele também alertou para o impacto das importações via Mercosul, isentas de tributos: “Minas Gerais hoje já tem mais de 70 indústrias de arroz que compram praticamente só arroz do Paraguai, um arroz de baixa qualidade”.
De acordo com Marcus Vinícius, essa prática distorce o mercado interno e gera concorrência desleal com o arroz gaúcho. “O arroz paraguaio chega beneficiado, às vezes até polido, e entra com vantagem tributária. Isso preocupa muito”, completou.
Custo de produção e risco de abandono da lavoura
O parlamentar explicou que o custo médio de produção de uma saca de arroz no Rio Grande do Sul é de R$ 63, enquanto o preço de venda atual varia entre R$ 56 e R$ 59. “Estamos falando de um prejuízo significativo para quem planta. Há produtores que já avaliam não plantar na próxima safra”, afirmou.
Segundo ele, a situação é crítica especialmente nas regiões de Uruguaiana e Alegrete, onde as distâncias elevam o custo do frete. “Qual o sentido de pegar o teu dinheiro, botar na terra e somar prejuízo?”, questionou o deputado, destacando que muitos agricultores não têm alternativas de cultura imediata.
Ele lembrou que converter áreas de banhado em pastagem ou soja é um processo lento e caro. “São áreas complicadíssimas para isso. Converter leva anos”, afirmou.
Soluções para o arroz
Marcus Vinícius, que preside a Frente Parlamentar do Arroz, afirmou que as propostas de isenção da CDO e de redução do ICMS devem ser apresentadas à Assembleia Legislativa até o fim do ano.
“Essas medidas não resolvem o problema, mas atenuam. Precisam ser aprovadas até 31 de dezembro, porque a partir de janeiro, por ser ano eleitoral, o governo não pode conceder isenção fiscal nem renúncia de receita”, explicou.
Segundo o deputado, 31 parlamentares de diferentes bancadas já sinalizaram apoio à proposta. “Isso nos dá esperança. Se conseguirmos reduzir o custo e estimular a exportação, podemos esvaziar os estoques e melhorar os preços”, declarou.
Diversificação e inovação como caminho
Além das medidas emergenciais, Marcus Vinícius defendeu a diversificação da produção e o investimento em novas aplicações do arroz. Entre as alternativas, ele citou a produção de etanol, cosméticos e alimentos proteicos à base do cereal.
“Temos que olhar para frente. O arroz pode ser convertido em etanol, em proteína vegetal e até ser base de cosméticos. É uma matéria-prima nobre e versátil”, afirmou.
Ele lembrou que outras regiões do Estado, como Santiago e Júlio de Castilhos, já desenvolvem projetos de etanol de milho e poderiam expandir para o arroz. “Temos muito mais arroz do que milho. É uma oportunidade que precisa ser estimulada”, defendeu.
Mudança nos hábitos de consumo
O deputado também apontou uma transformação cultural que afeta o consumo interno do arroz. “As pessoas estão comendo menos em casa e mudando seus hábitos. A rotina moderna reduziu o consumo de arroz e feijão”, observou.
Ele destacou que o setor precisa investir em novos cultivares e variedades especiais, como o arroz japonês, negro e vermelho, que têm maior valor agregado.
“Temos que pensar em tipos de arroz que atendam novos perfis de consumo e gerem mais renda ao produtor”, disse.
“Sem o arroz e o fumo, nossa região não existiria”
Marcus Vinícius encerrou a entrevista lembrando a importância da cultura arrozeira para a economia da Costa Doce.
“Nós vivemos numa região que, sem o arroz e sem o fumo, não existiria. O comércio de Camaquã depende da renda do campo. Precisamos ter atenção a isso”, afirmou.
O deputado reforçou o papel do Parlamento em articular soluções e destacou o otimismo com os encaminhamentos feitos até agora. “A crise é séria, mas pode ser o empurrão para pensarmos o futuro do arroz com inovação, tecnologia e visão de longo prazo”, concluiu. - Publicado primeiro em Clic Camaquã » Crise no arroz preocupa produtores e mobiliza deputados na Assembleia Legislativa.
