Crise do arroz foi construída pelo próprio setor

A crise enfrentada atualmente pelo setor do arroz brasileiro não é fruto de fatores externos, mas resultado de erros internos acumulados ao longo dos últimos anos. A avaliação é de Sérgio Cardoso, diretor de operações na Itaobi Representações, que aponta uma série de desequilíbrios estruturais e estratégicos na cadeia produtiva como causa central do problema. Segundo ele, o setor superestimou o tamanho do mercado e ignorou as mudanças nos hábitos alimentares da população, o que resultou em excesso de oferta e queda contínua dos preços.

De acordo com Cardoso, o consumo nacional de arroz está estabilizado em cerca de 10 milhões de toneladas, enquanto a produção ultrapassa 12 milhões. Essa diferença, que parecia positiva em tempos de exportações aquecidas, se transformou em um gargalo diante da retração do consumo doméstico e da concorrência global. Além disso, o avanço dos alimentos ultraprocessados e prontos para consumo reduziu o espaço do arroz na mesa do brasileiro.

O executivo também cita fatores recentes, como o uso crescente das chamadas “canetas de emagrecimento”, que diminuem a ingestão calórica e deslocam o consumo de carboidratos tradicionais. Ele adverte que uma intervenção estatal neste momento poderia agravar a situação, estendendo o ciclo de baixa dos preços e atrasando a recuperação natural do mercado.

“E buscar intervenção estatal agora pode atrasar ainda mais a recomposição natural de preços. Quando o Estado tenta controlar preço, normalmente estica o ciclo negativo. Essa crise foi construída por nós e será resolvida por nós. Com ajuste, disciplina de oferta e foco no consumidor real”, conclui.

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