Brasil deve aumentar a importação de trigo em 2026

Com uma safra local menor e demanda interna ainda elevada, a necessidade de importação brasileira de trigo deve aumentar na safra 2025/26, afirmou Douglas Araújo, líder de negócios de trigo da CJ International Brasil no 10º Encontro da Cadeia Produtiva do Trigo de São Paulo, nesta sexta-feira (26/9).

Segundo ele, a Argentina deve ocupar a maior parte desse espaço, dada sua expectativa de colheita robusta e preços competitivos. No hemisfério Sul, segundo Araújo, tanto a Austrália quanto a Argentina sinalizam boas colheitas, com destaque para o país vizinho, que poderá superar as estimativas iniciais. “A Argentina, no relatório do USDA [Departamento de Agricultura dos Estados Unidos], está em 19,5 milhões [de toneladas]. Lá na Argentina já se fala acima de 20 milhões. E é muito provável até que a gente tenha revisões para cima desses números”, avaliou.

Ele avalia que, diante dessa oferta, outros exportadores devem perder espaço no mercado brasileiro em relação à Argentina. “O [trigo] argentino realmente tá muito na frente. Então, não vai ter espaço para Rússia esse ano, tampouco para os Estados Unidos. E não teve esse ano de 2025 e provavelmente não terá em 2026 com essa safra abundante da Argentina”.

Na conta da CJ International, o trigo argentino segue com vantagem de preço, com preços próximos a US$ 215 por tonelada, citando preços na paridade com o mercado paulista. O trigo russo poderia ser comprado a cerca de US$ 242 por tonelada, enquanto o americano por volta de US$ 231 por tonelada. Mesmo entre os países do Mercosul, a Argentina se destaca.

“Uruguai, Paraguai e Argentina: desses três, apenas a Argentina está com uma safra muito grande. O Paraguai está andando de lado e o Uruguai vai ter uma safra menor”, disse. “Uruguai foi um ‘queridinho’ nas últimas duas safras, mas perto da Argentina esse ano não sei se vai ter muitos passos”. No cenário global, o analista destaca que há uma ampla oferta.

“Tem muito trigo. Todos os países praticamente estão tendo safras muito boas ou de recuperação, então não tem um lugar no mundo que você olha e vê falta de trigo. Muito pelo contrário”, observou. De acordo com ele, a produção mundial em 2025/26 está “um pouco acima do consumo”.

“A gente realmente tá num ciclo de queda das commodities. E a gente ainda não vê muita saída para isso no curto prazo”, avaliou Araújo.

Ele lembra que esse movimento afeta não só o trigo, mas também soja, milho e outras commodities, influenciado por fatores macroeconômicos como os juros elevados no Brasil e no exterior. Apesar da tendência de baixa, o mercado brasileiro continua atraente.

“Quando a gente compara os preços do interior do Brasil de trigo com os níveis internacionais e divide isso pela taxa do dólar, a gente chega à conclusão de que o mercado doméstico paga um prêmio para esse produto”, pontuou. Com isso, o excedente da safra no Sul, principalmente no Rio Grande do Sul, tende a ser absorvido internamente, na opinião do profissional.

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